quinta-feira, 10 de julho de 2014

Aonde você está indo?




A vontade de chegar dominava os octilhões de átomos do meu corpo, havia pressa no meu olhar, resumos nas minhas palavras, quilômetros nos meus pés. Já eram muitos pores do sol sem ver, muitos caminhos para casa sem considerar a lua, muitas músicas dançantes sem mover nem os tímpanos. Então, explodi, meus pés resistiram em continuar caminhando. Ouvindo meus estímulos ao som de Yellow submarine e afins, comecei a procurar o que me encantava no mundo – sim, um jingle beatlemaníaco à estilo festa infantil é uma dessas coisas.
Aonde eu estava indo mesmo?
Para onde a vida moderna nos leva, leves ao léu e como fracos fluidos, feridos, ao fim, antes do começo, caímos, caquéticos de nossas cadeiras.
Essa telúrica falta de viver reside no fato de não nos alegramos mais com o que chega a nós. Não contemplamos a existência como é. Não nos maravilhamos com as belezas comuns do cotidiano. Estamos sempre em busca de algo, uma entidade metafísica materializada em algum lugar do futuro. Uma carreira, uma família, uma empresa, um amor, algo bem distante do presente. Bem aquém do aqui. O hoje não nos interessa se não estiver nos levando a algum lugar do amanhã.
Estamos correndo desesperados atrás do pote de ouro do fim do arco Íris deixando de contemplar a beleza das cores que estão nele - e é porque nem há ouro por lá.
Nossa casa não tem plantas, animais de estimação, cores, só papeis, engenhocas e pilhas de projetos tediosos. Perdemos o senso pueril de maravilhamento e por tal a originalidade, a áurea da vida.
Nessa terra de gigantes ‘que trocam vidas por diamantes’, queremos ser os maiores, por isso corremos, preferimos ter a vista tediosa e minúscula do gigante que está acima de tudo, a ter a vista do anão, que pode olhar para cima, ver as gigantescas verdades do existir, e maravilhar-se. Preferimos ver o mundo pequeno e ser grande a ser pequeno e ter a imensidão como paisagem.
 Mas uma luz ainda brilha em nós, ainda podemos escolher um estilo de vida que reclame novidade, que colecione folhas de árvores e não folhas de papéis. Que ande pelas ruas sentindo o aroma das flores, se preciso ande de costas só para ver o arco Íris montando, ou aumentando o caminho para casa só pra ver o sol se despedindo de nosso céu.
 Se bem observarmos, não há nada de tão interessante no futuro, a terra média está em nós, Saruman não reina nela, Nárnia reside aqui, a feiticeira foi embora, basta deixarmos fluir nosso senso de contemplação, nossa criança interior que reside entediada dentro de nós.

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