A vontade de chegar
dominava os octilhões de átomos do meu corpo, havia
pressa no meu olhar, resumos nas minhas palavras, quilômetros nos meus pés. Já
eram muitos pores do sol sem ver, muitos caminhos para casa sem considerar a lua,
muitas músicas dançantes sem mover nem os tímpanos. Então, explodi, meus pés resistiram
em continuar caminhando. Ouvindo meus estímulos ao som de Yellow submarine e afins, comecei a procurar o que me encantava no
mundo – sim, um jingle beatlemaníaco
à estilo festa infantil é uma dessas coisas.
Aonde eu estava
indo mesmo?
Para onde a vida
moderna nos leva, leves ao léu e como fracos fluidos, feridos, ao fim, antes do
começo, caímos, caquéticos de nossas cadeiras.
Essa telúrica falta de
viver reside no fato de não nos alegramos mais com o que chega a nós. Não
contemplamos a existência como é. Não nos maravilhamos com as belezas comuns do
cotidiano. Estamos sempre em busca de algo, uma entidade metafísica
materializada em algum lugar do futuro. Uma carreira, uma família, uma empresa,
um amor, algo bem distante do presente. Bem aquém do aqui. O hoje não nos
interessa se não estiver nos levando a algum lugar do amanhã.
Estamos correndo
desesperados atrás do pote de ouro do fim do arco Íris deixando de contemplar a
beleza das cores que estão nele - e é porque nem há ouro por lá.
Nossa casa não tem
plantas, animais de estimação, cores, só papeis, engenhocas e pilhas de projetos
tediosos. Perdemos o senso pueril de maravilhamento e por tal a originalidade, a
áurea da vida.
Nessa terra de gigantes
‘que trocam vidas por diamantes’, queremos ser os maiores, por isso corremos, preferimos
ter a vista tediosa e minúscula do gigante que está acima de tudo, a ter a
vista do anão, que pode olhar para cima, ver as gigantescas verdades do existir,
e maravilhar-se. Preferimos ver o mundo pequeno e ser grande a ser pequeno e
ter a imensidão como paisagem.
Mas uma luz ainda
brilha em nós, ainda podemos escolher um estilo de vida que reclame novidade,
que colecione folhas de árvores e não folhas de papéis. Que ande pelas ruas
sentindo o aroma das flores, se preciso ande de costas só para ver o arco Íris
montando, ou aumentando o caminho para casa só pra ver o sol se despedindo de
nosso céu.
Se bem observarmos, não
há nada de tão interessante no futuro, a terra média está em nós, Saruman não
reina nela, Nárnia reside aqui, a feiticeira foi embora, basta deixarmos fluir nosso
senso de contemplação, nossa criança interior que reside entediada dentro de nós.
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