quarta-feira, 30 de julho de 2014

Vaga mente



Por: Lia Clarice – o heterônimo da eterna procura

À deriva da imaginação
Lanço-me ao vazio do mundo
Perco-me no todo de tudo para achar partes do nada que sou
Entrego-me àquela embarcação enferrujada da razão que passa ao horizonte
Vai lenta e leve para lugar nenhum
Levando almas vagantes desistentes do mundo e logo crentes de si.
Parece que vai levar-me para longe dessa morada medíocre que me tornei.
E essa promessa por hoje basta.
Quero me livrar de mim
- A viagem é sem retorno
- Carimbe o passaporte da alma, preço aceito.
Jogo-me nesse mar bravio de pensamentos pseudocalmos
Parecem quietos - mas são só mais escapismos e mentiras salgadas como o resto do mar
Sentir-me profundo ao fundo de um mundo que perdeu seu sentido?
Onde estava meu próprio sentido?
Mas já estou no navio, agora aceito a condição de navegante.
Uma vez entregue aos devaneios do pensar nunca mais dele se libertará
- Ó pobre alma vagante deverias saber do vão que é navegar em pensar, nenhum homem que se propõe volta ao mesmo lugar.
Mas ainda há um lugar diferente para ir – dentro de mim
A liturgia do pensar agora parece sugerir: voe para si
A Viagem que ninguém quer aceitar
Monstros diversos, faces do eu, partes de mim.
Partes do todo, perdidos num particular tão mesquinho.
E o risco de perder-se no sótão escuro de si próprio,
Lá mantenho acorrentadas verdades inaceitáveis de mim
Confronto meu próprio vazio
Espere, há algo aqui.
Pássaros compõem
Nuvens caçoam
A beleza agora vem de dentro.
Mas ela é parte do que há fora.
Sou a ordem do caos
A medida de todas as coisas - não, não eu, Alguém o É
Acredito por um instante repentino e repetido como uma canção curta que ressoa e repete eternamente, incansável.
Acredito pela força do próprio absurdo que o absurdo absoluto encarnou-se em paradoxos não contraditórios trazendo a realidade irrefutável da existência que adoece existindo como alma vagante pelas sombras da noite desvanecente.
Nada tem sentido fora,
Entrar no navio não é uma viagem se a embarcação não sair do porto que habita dentro de mim.
Vaga mente, vá, voe, e volte, lentamente, assumindo a canção do eterno retorno para dentro do todo que não te chamou para um navio, mas te quer fazer conhecer o mar.


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