segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

A âncora da mediocridade.


Eu queria aportar, acampar no eterno vazio do mundo, queria desesperadamente montar minha barraca e colocar minha tripulação de pensamentos em qualquer lugar distante de toda essa bagunça entediante que chamam mundo, queria fixidez.

Esse era um pedido desesperador de um marujo cansado que clamava por terra firme, por ordem, sim, eu não sabia que todo ordenamento pede um pouco de caos, que toda terra firme precisa de fortes ondas pra lembrar a beleza do Arpoador. 

Eu queria ordem, queria leis fixas, queria viver um único ritmo, viver o mesmo roteiro vagaroso previsível e entediante que só apaixona seres fúteis como eu.


Então corri muito em busca de um lugar fixo, atrás de uma quimérica paisagem distante e não mutável, onde eu fosse dona de mim e do mundo que eu quisesse projetar, um mundo desenhado uma única vez sem direito a reparos.

Mas a vida se descortinava a cada instante como uma eterna aventura, um eterno mudar de cenários, de gostos de vontades e nunca me decidi sobre onde acampar, até que uma indecente verdade a mim veio e esta é que o único lugar que é digno de nos possuir somos nós mesmos e o único lugar que nós merecemos é o mundo inteiro.

Então fui criando apreço pelas paradas obrigatórias que a vida me deu, pelas encruzilhadas, pelas novas paisagens, pela dúvida nas bifurcações. O amor ao caminho era agora maior e mais empolgante que a previsibilidade de um destino final. 

Hoje não quero um único teto, um único chão, uma única casa, uma única ideologia. Uma única mania. Eu quero qualquer lei, qualquer paisagem, eu quero cada instante estar, cada instante ser, e cada vez menos ter, menos pertencer.

Hoje minha âncora está no ar, meu navio é qualquer lugar.




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